Influenciadores mirins promovem marketing de afiliados, com estratégia de vendas por plataformas dedicadas, recebendo porcentagem por cada aula vendida.
Na sociedade digital contemporânea, jovens têm se tornado cada vez mais influentes, compartilhando suas experiências de vida como se fossem trabalhadores independentes. Em vídeos que se tornaram conteúdo constante em suas redes sociais, eles narram como vivem uma vida de luxo, atestando terem lucro mensal significativo apenas com suas atividades online.
Esse cenário, muitas vezes, é resultado de um marketing pessoal desafiador, onde esses indivíduos se colocam como influenciadores digitais, criando uma narrativa de renda fácil em plataformas como o Instagram, TikTok e YouTube. No entanto, ao olhar de perto, essa vida de luxo pode ser apenas uma máscara para o esforço e dedicação necessários para atrair e manter o interesse de seus seguidores e gerar receita.
Trabalho Infantil On-line: Adolescente com Milhares de Seguidores no Instagram e no TikTok
Em vídeos publicados em contas com milhares de seguidores no Instagram e no TikTok, adolescentes dizem ter uma renda alta, atribuindo-a à participação nas vendas de cursos que ‘ensinam’ a ganhar muito dinheiro com um esquema específico, hospedados nas plataformas de marketing de afiliados Kiwify e Cakto. Os vídeos foram analisados por advogados, que concluíram que esses adolescentes podem estar submetidos a trabalho infantil on-line.
Faculdade e Trabalho: Uma Questão de Opções
‘Qual faculdade você pensa em fazer no futuro? Faculdade? Eu já ganho mais que 5 médicos no mês’, diz um adolescente em um vídeo. ‘Não me garanto em muita coisa, mas coloca um celular na minha mão pra ver se eu não faço R$ 50 mil no mês’, afirma outro. Essas frases são ditas por adolescentes em vídeos publicados em contas com milhares de seguidores nas duas redes sociais.
O Comércio de Cursos de Marketing de Afiliados
O g1 encontrou ao menos 33 perfis com esse tipo de conteúdo nas duas redes sociais e monitorou essas contas nos últimos três meses. Foram encontradas contas de pessoas que vivem em São Paulo, no Paraná e no Pará. O conteúdo delas se resume a postagens que minimizam a importância do estudo e onde os ‘influencers mirins’ vendem a ideia de um trabalho fácil, mostram maços de dinheiro, citam altas cifras de faturamento na bio, mas não revelam a fonte da suposta riqueza. Eles pedem que os interessados em saber a ‘receita’ do sucesso mandem uma DM (mensagem privada) ou acessem um link. Ali é revelado que o caminho para ‘ter’ uma vida como a deles começa por comprar um curso hospedado nas plataformas de marketing de afiliados Kiwify e Cakto, amplamente divulgadas pelos adolescentes.
Marketing de Afiliados: Uma Estratégia de Vendas
O que é marketing de afiliados? É uma estratégia de vendas em que uma empresa ou pessoa (também conhecida como infoprodutor) cria e disponibiliza seu curso ou produto em plataformas dedicadas para isso. Outras pessoas, então, divulgam esses conteúdos com links exclusivos e ganham uma porcentagem em cima da venda delas. Os cursos, que prometem ensinar a ganhar dinheiro com a participação em vendas desses mesmos cursos, têm nomes chamativos como ‘O Tesouro do Tráfego Orgânico’ e ‘Acelerador de resultados’. Eles são ministrados por outras pessoas que não os influencers. Por exemplo, no curso adquirido pelo g1, o irmão de uma menina que ostenta nas redes é quem dá as aulas. Os conteúdos custam entre R$ 10 e R$ 200 — o que causa estranhamento diante do quanto esses influencers dizem faturar.
Trabalho Infantil On-line e Fraude
A pedido do g1, advogados especializados em direito da criança e do adolescente analisaram as postagens e disseram que podem ser casos de trabalho infantil on-line (veja o que dizem as regras abaixo). Os adolescentes podem estar sendo usados por indivíduos mal-intencionados para praticar fraude (estelionato), avalia Kelli Angelini, advogada especialista em educação digital e autora do livro ‘Segredos da internet que crianças e adolescentes ainda são sabem’. A legislação brasileira define o crime de estelionato (Art. 171) como a tentativa de ‘obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento’. Neste caso, os menores podem estar sendo.
Fonte: © G1 – Tecnologia
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