Em 2023, houve queda na quantidade e volume arrecadado em relação a 2022, com atividade contida. O mercado espera recuperação este ano? Ernst & Young analisa: capital privado, escrutínio regulatório, operações, retorno mais confiável.
Muitas empresas optam por buscar IPOs como forma de captação de recursos no mercado de capitais. Esse processo de abertura de capital pode trazer benefícios como aumento da visibilidade da empresa e a possibilidade de expansão dos negócios.
As ofertas públicas iniciais são uma estratégia utilizada por empresas que buscam recursos fora do mercado privado. Diferente do capital privado, as IPOs proporcionam maior liquidez e diversidade de investidores interessados na companhia, podendo impulsionar seu crescimento de forma significativa.
Reflexos nos Mercados de IPOs
Em contraste, a maioria dos governos está relaxando regras de listagem pública para impulsionar as operações, dadas as esperanças de que o mercado de ações se recupere. Neste cenário, as perspectivas da consultoria Ernst & Young (EY) são de que as ofertas públicas iniciais voltem a ocorrer em meados deste ano.
É o que aponta em seu relatório Global IPO Trends 2023, divulgado para o Valor Investe. Operações recentes mostram que não falta apetite, especialmente quando ele está relacionado à inteligência artificial (IA).
A listagem da rede social Reddit, que pretende licenciar seu conteúdo para plataformas de IA, superou em quase 50% o preço de seu IPO no fechamento do primeiro pregão, enquanto a da Astera Labs, que desenvolve e implementa plataformas de conectividade para infraestrutura de nuvem e inteligência artificial, superou em 72% o valor de sua listagem inicial.
Contudo, essa volta das listagens de novas ações nos mercados ao redor do mundo depende da estabilização das taxas de juros e redução da volatilidade geopolítica. Caso essas condições não se concretizem, podem empurrar as tendências de IPO em uma direção que vai contra a do mercado de ações global.
As quedas nos preços das ações de empresas que realizaram suas listagens na bolsa em setembro do ano passado levaram alguns candidatos a IPO a adiar seus planos. Mesmo aqueles que optam por abrir capital agora estão cautelosos, examinando os sinais do mercado.
Embora a inflação ao redor do mundo tenha diminuído este ano, a expectativa de potenciais reduções das taxas de juros poderia encorajar os investidores ao oferecer um retorno mais confiável sobre o investimento em IPOs. Um maior alinhamento de preços entre emissores e investidores, melhor relação entre EUA e China e geopolítica mais tranquila também poderiam ajudar a mitigar os ventos contrários que essas operações enfrentam.
Outro obstáculo ao mercado é que recentemente os IPOs de grandes empresas consistentemente ficam aquém dos negócios menores em janelas pós-IPO de um dia a um mês e também ficam aquém dos retornos atuais tanto para os IPOs deste ano quanto do ano passado. Ainda que as empresas menores permaneçam abertas a planos de IPO, exemplos de sucesso nas empresas de valor mais alto precisam surgir para restaurar a confiança dos investidores e fazer com que um grande volume de IPOs retorne ao mercado.
Os setores de tecnologia e ciências da saúde e da vida estão liderando a fila de IPOs que devem ir ao mercado, pois continuam a atrair capital de risco, embora suas avaliações tenham caído significativamente nos últimos dois anos.
Na visão de Rafael Alves dos Santos, sócio e especialista em IPO na EY, há um movimento otimista em relação a essas operações nos Estados Unidos devido a um ambiente econômico mais favorável. A expectativa é que as novas listagens no país venham ao mercado principalmente no final do semestre ou no começo do semestre que vem, quando a janela se encerra por conta das eleições no final do ano. No Brasil, Santos acredita que a janela para IPOs deve ocorrer perto do segundo semestre. ‘Será um ano bom, mas não como 2020 e 2021. Ambos marcaram a retomada das operações’.
Brasil: Seca prolongada influencia Mercado de IPOs
De acordo com a EY, o Brasil segue sem listagem por dois anos consecutivos, marcando a seca mais prolongada em mais de duas décadas, especialmente, por causa das instabilidades globais.
Apesar da seca contínua, as ofertas subsequentes criaram um impulso em 2023. A maioria das transações foi concluída por empresas que abriram o capital em 2020 e 2021. Para Santos, sócio da EY, a falta de listagens no país é afetada pelas questões globais, mas o país também tem sua parcela de culpa. ‘No ano passado, a mudança de governo afetou as operações. Havia muitas incertezas sobre o rumo das taxas de juros e levou um tempo para que as reformas começassem a caminhar’.
Grandes números mostram queda e movimentação nos Mercados
Em 2023, ocorreram 1.298 IPOs ao redor do mundo, que arrecadaram US$ 123,2 bilhões, uma queda de 8% na quantidade e 33% no valor arrecadado se comparado ao ano anterior.
Embora o volume de negócios tenha aumentado nas regiões das Américas e na região da Europa, Oriente Médio e África (EMEA) no ano, o total ficou cerca de um terço abaixo do ritmo já morno de 2022. Mercados de ações fortes geralmente estão ligados a um aumento de IPOs, enquanto no ciclo de baixa a atividade de IPO desacelera.
Esse, contudo, não foi o caso em 2023. Apesar de uma forte valorização das ações e um baixo índice de volatilidade, os IPOs permaneceram contidos em muitos mercados desenvolvidos, com exceção de uma breve janela em setembro nos EUA. A razão para isso, segundo a EY, é que, além do bom desempenho ter sido concentrado nas grandes ações de tecnologia, não houve alívio em relação a taxa de juros nas principais economias globais, o que afastou investidores avessos ao risco das ações e desencorajou empresas de abrir capital. Como consequência, as retiradas de pedidos e adiamentos globais de IPOs dispararam em 2023.
Ambas as decisões foram tomadas em cerca de 800 negócios, que representam metade do volume total. É um aumento dramático em relação à média de retiradas de listagens de 16,5% entre 2014 e 2021.
Em crise econômica, a China puxou a altas de cancelamentos e adiamentos de listagem, que aumentaram nove vezes desde julho.
Geografias dão o tom dos IPOs
As Américas (Estados Unidos, Canadá, México, Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Argentina, Porto Rico, Bermudas, Equador e Jamaica) lideraram o crescimento de IPOs.
Na região, foram realizadas 153 operações, 15% mais do que em 2022. As operações arrecadaram US$ 22,7 bilhões, valor 155% maior do que o registrado no ano anterior. Contudo, mais de 86% das negociações na região foram realizadas em bolsas dos EUA.Os setores de Tecnologia e Saúde continuaram a liderar os negócios. Já na ponta negativa ficou a região Ásia-Pacífico, que registrou 732 IPOs e um valor arrecadado de US$ 69,4 bilhões, queda de 18% e 44% em relação a 2022, respectivamente. A região inverteu o movimento ascendente observado em 2022.
A Índia manteve um forte impulso de IPOs, sinalizando crescimento econômico apesar de tamanhos menores de negócios afetarem o valor total arrecadado. Já os IPOs de Hong Kong registraram o valor arrecadado mais baixo em 20 anos, devido à falta de liquidez, sentimento morno dos investidores, aumentos nas taxas de juros e relações tensas entre China e EUA.
Na Europa, Oriente Médio e Ásia houve 413 IPOs, alta de 7% em relação ao ano anterior, e US$ 31,1 bilhões em volume arrecadado, queda de 39% comparada ao mesmo período. A atividade de negociação no Reino Unido caiu drasticamente em meio à alta contínua da inflação e das taxas de juros.
Setores em Destaque na Expansão dos IPOs
A expansão dos IPOs nos setores industriais e de consumo tem sido impulsionada pelo crescimento econômico vigoroso e pelo comércio global. Isso está ocorrendo à medida que as cadeias de abastecimento globais reduzem sua dependência de mercados tradicionais e se deslocam para novas geografias.
Índia, Indonésia e Japão sediaram muitas das listagens, ao lado da China continental, que tradicionalmente atrai grandes IPOs de manufatura e consumo. Apesar das listagens tecnológicas chamativas, como ARM, Instacart e Klaviyo, e significativos investimentos de capital de risco em startups de inteligência artificial generativa, o setor de tecnologia continuou a registrar uma queda no número de IPOs, em avaliações e desempenho pós-IPO em 2023.
Também houve uma significativa diminuição no volume de IPOs e no valor arrecadado dentro do setor de saúde e ciências da vida, especialmente na China continental e nos EUA. Os volumes de novas listagens para empresas nos dois setores despencaram 78% desde 2021.
Ambos se aproveitaram das políticas de ‘dinheiro fácil’ da era da pandemia e agora enfrentam revisões de suas avaliações, à medida que as taxas de juros sobem e o capital barato se dissipa.
Em meio à volatilidade dos preços do petróleo, o setor de energia teve uma forte queda tanto no número de negócios quanto no valor, acompanhada por um aumento significativo no número de novas listagens em que os preços de oferta caíram abaixo da faixa inicial.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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