Torcedores universitários reafirmam-se como ‘superiores’ por critérios financeiros, étnicas ou intelectuais, em jogos com espaço para violência verbal elitista jurídicos.
- ‘Federal, fala baixinho, quem tem 10 mil não envelhece no cursinho!’ x ’10 mil reais é o preço que se paga por não ter estudado mais!’
- ‘Eu sou solidário, pago seu curso e vou pagar o seu salário’ x ‘Explode o seu cartão, na maior mensalidade, é lindo ver seu pai pagando a tua e a minha faculdade.’
A luta de classes protagonizada pelos estudantes universitários brasileiros revela-se uma competição que transcende as fronteiras esportivas, demonstrando a desigualdade social presente na sociedade.
A expressão “luta de classes” ganha contornos mais profundos quando observamos que grupos de torcedores se dividem em classes sociais, onde uma se vê superior à outra, com conflitos e preconceitos raciais e intelectuais, dificultando a harmonia acadêmica e social.
Um Legado de Desigualdade: A Luta de Classes no Esporte
Na arena esportiva, é comum encontrar torcedores que se sentem mais conectados a certos times em detrimento de outros, um sentimento que se enraíza em uma profunda luta de classes. Em Vassouras, RJ, um lembrete constante aos oponentes é que ‘aqui não é seu lugar’, um discurso que ecoa em várias situações onde a desigualdade social se manifesta abertamente. Alguns exemplos demonstram como essa luta de classes se manifesta de maneira exacerbada nos jogos universitários, onde a elitização do espaço esportivo se torna uma questão preponderante.
Na cidade de Vassouras, RJ, em um jogo de futebol universitário, alunos de uma faculdade particular jogaram notas falsas de dinheiro na quadra, num gesto que reforçava o sentimento de desigualdade entre os concorrentes. Para Thamires Soares, uma aluna de direito e beneficiária da cota na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), essa ação era um claro sinal de que, mesmo em um ambiente de concorrência esportiva, a exclusão é uma questão contínua. ‘Durante muito tempo, a gente, que é pobre e preto, não acessava a universidade pública. Agora que conseguiu, precisa vivenciar isso? Reforça o sentimento de não pertencimento.’
Em outra ocasião, em Americana, alunos de direito da PUC-SP gritaram ‘cotistas’ e ‘pobres’ para colegas da USP, demonstrando como a luta de classes pode se manifestar de forma violenta e elitista até mesmo em espaços que deveriam ser neutros. Esses episódios não são anormalidades, mas sim parte de um contexto mais amplo que reflete a desigualdade social em várias esferas da vida.
A origem do futebol, na Inglaterra, já foi motivada por um conflito de classes, marcando desde cedo a presença da desigualdade social e o entendimento de que determinados espaços só podem ser frequentados pela elite. Com o tempo, essa mentalidade se espalhou, influenciando a maneira como as pessoas se relacionam em diferentes contextos, como a rotina de bebida alcoólica e privação de sono nos jogos universitários, que desencadeia ainda mais as intrigas e conflitos sociais. Em alguns casos, as provocações não apenas são antiéticas, mas também criminosas, como o registro de casca de banana sendo jogada em campo, para jogadores negros.
A violência verbal é uma consequência natural dessa luta de classes, que precisa ser rompida. É necessário garantir que os responsáveis enfrentem moralmente e juridicamente as consequências de seus atos, reforçando a necessidade de que os jogos universitários sejam espaços de respeito e igualdade.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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