Pesquisa da Sociedade Brasileira de Infectologia mostra que 37% das pessoas acreditam em erro que antibióticos combatem vírus, fungos e vermes e são usados para resfriados, gripes e dor muscular.
O desafio da resistência bacteriana ao tratamento com antibióticos é um problema crônico e cada vez mais ameaçador no Brasil, levando muitas pessoas a buscar soluções fáceis e desprovidas de conhecimento profissional.
Um estudo da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) identificou que o uso inadequado de antibióticos é uma das principais causas da resistência, e o Brasil não está isento disso. De acordo com o relatório, 24,5% dos entrevistados admitiram ter se automedicado com antibióticos ao menos uma vez no último ano, enquanto 45,2% disseram ter acesso a esses medicamentos sem prescrição médica. Essa situação não é apenas um problema, mas sim uma ameaça à saúde pública, pois aumenta a probabilidade de agravos na saúde, como crises e problemas sanitários graves, gerando um cenário de crise ambiental e sanitária em nosso país.
Ampliação da Resistência Bacteriana e Ocorrência de Problemas de Saúde
A resistência bacteriana se apresenta como uma das maiores ameaças à saúde pública, devido ao uso inadequado de antibióticos e à disseminação de bactérias resistentes em ambientes, como o uso de antibióticos em frangos e porcos. Dados recentes revelam que 62,4% das pessoas que se automedicaram usam antibióticos para tratar dor de garganta, geralmente tratável com outros medicamentos, e 26,8% recorrem ao medicamento para resfriados e gripes, que muitas vezes não necessitam desse tipo de intervenção. Além disso, 13,4% dos entrevistados relataram problemas de dor muscular como motivo de automedicação, indicando um uso amplamente inadequado de antibióticos.
A infectologista Ana Cristina Gales destaca que a desinformação é um grande desafio, com 37% dos entrevistados acreditando erroneamente que antibióticos combatem vírus, fungos ou parasitas. Além disso, 55,5% desconhecem que o uso inadequado pode levar à resistência bacteriana. ‘Toda vez que usamos antibióticos, estamos selecionando as bactérias mais resistentes, que já existem naturalmente no ambiente. O problema não é criar uma nova resistência, mas favorecer as mais perigosas’, explica Gales.
A resistência antimicrobiana é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das dez maiores ameaças à saúde pública. Sem ações imediatas, 10 milhões de mortes anuais serão atribuídas ao problema até 2050, superando o número de mortes por câncer. ‘A resistência compromete tratamentos médicos fundamentais, como quimioterapias e grandes cirurgias. Esses avanços se tornam inseguros sem antibióticos eficazes’, explica Gales.
Para enfrentar o problema, Gales defende a necessidade de uma abordagem ampla: ‘Precisamos de vacinas eficazes, acesso universal a água potável e saneamento, melhorias na higiene e medidas de prevenção e controle de infecções. Somente com uma ação global e coordenada podemos conter essa ameaça.’
O estudo revela que 30% dos brasileiros não seguem à risca as prescrições médicas para uso de antibióticos, e muitos obtêm informações inadequadas de redes sociais ou influenciadores digitais, ao invés de buscar orientação médica. Além disso, dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento mostram que apenas 55% da população brasileira tem acesso à coleta de esgoto, e apenas 71% do esgoto coletado é tratado.
O médico Alberto Chebabo, presidente da SBI, destaca que ‘a reciclagem de material genético no meio ambiente, alimentada pela falta de saneamento e tratamento inadequado de esgoto, favorece a disseminação de genes de resistência bacteriana, um reflexo direto da negligência estrutural que enfrentamos.’ Chebabo também alerta para o papel da agropecuária na propagação de bactérias resistentes: ‘O uso indiscriminado de antimicrobianos na produção de alimentos, como frangos e porcos, cria um ciclo.’
A crise da resistência bacteriana é agravada por problemas estruturais e ambientais, incluindo a falta de saneamento e tratamento inadequado de esgoto. A reciclagem de material genético no meio ambiente, alimentada pela falta de saneamento e tratamento inadequado de esgoto, favorece a disseminação de genes de resistência bacteriana. O uso indiscriminado de antimicrobianos na produção de alimentos, como frangos e porcos, cria um ciclo de resistência.
Fonte: @ Veja Abril
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